Os vencedores da eleição presidencial enfrentam a primeira turbulência mais séria na preparação do novo governo, e a causa é a economia. A semana inicial da transição terminou tensa com as reações ao discurso de defesa dos gastos sociais feito pelo presidente eleito, que irritou o mercado financeiro pela falta de uma mensagem de compromisso com o equilíbrio fiscal.
A interpretação do mercado, de que Lula (PT) dissociou os compromissos sociais dos fiscais, levou a um tombo na Bolsa e à alta forte do dólar na quinta-feira (10/11). Desde então, a equipe de transição organizou uma operação para apagar o incêndio, lembrando o compromisso do petista com metas fiscais em seus governos anteriores e garantindo que haverá essa preocupação na gestão que começa em 2023.
A estratégia funcionou parcialmente na sexta (11/10), com a Bolsa se recuperando um pouco e o dólar caindo, mas não a ponto de equilibrar as perdas do dia anterior.
A instabilidade, porém, está contratada para os próximos dias, pois o que os donos do capital financeiro cobram, a transição não está disposta a dar, ainda: nomes e compromissos da equipe econômica que vai substituir o ministro da Economia, Paulo Guedes.
A ordem na equipe de Lula é declarar que haverá compromisso fiscal em equilíbrio com a necessidade de transferir renda para a população mais pobre. Quanto a nomes, a orientação é esperar, pois a montagem da equipe, como um todo, está ligada a negociações maiores, que incluem a busca por uma base parlamentar mais sólida.
O entendimento é de que anunciar nomes muito cedo pode ampliar o descontentamento de setores que não se sentirem contemplados.
O máximo que os aliados de Lula estão oferendo é dizer quem não vai ser ministro. Na sexta, o ex-ministro Guido Mantega, de quem o mercado não gosta por ter sido responsável pela Fazenda no governo de Dilma Rousseff (PT) em um momento turbulento, disse para a GloboNews que não vai assumir nenhum cargo no terceiro governo Lula.
Questionado sobre as cobranças do mercado na mesma entrevista, Mantega foi fiel à tática de não detalhar os planos de metas do novo governo, mas atacou o teto de gastos criado pelo governo de Michel Temer (MDB) após o impeachment de Dilma.
“Tem de dar flexibilidade para o governo. O teto de gastos colocou uma camisa de força na economia brasileira, o que explica o crescimento pífio”, criticou ele, que falou sobre a possibilidade de diferentes regras fiscais para gastos sociais e para o salário mínimo.
PEC adiada foi sinalização positiva
Um dos motivos para a recuperação parcial do mercado nesta sexta foi a informação de que o envio para o Congresso da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da Transição foi adiado para a próxima semana. A percepção dos analistas foi que a equipe de transição não está fechada a críticas e pretende negociar.
Ainda na quinta, o relator-geral do Orçamento 2023, Marcelo Castro (MDB-PI), confirmou que o governo eleito vai retirar o pagamento do Auxílio Brasil – que voltará a ser Bolsa Família – do teto de gastos para torná-lo permanente. A expectativa, portanto, é que o benefício seja mantido em R$ 600 mensais.
O senador eleito Wellington Dias (PT-PI), coordenador da área de Orçamento na equipe de transição, adiantou que, após as reuniões e sugestões recebidas ao longo da semana, o texto deve passar por revisões e será finalizado somente depois do aval de Lula. Fonte metrópoles.com