O alto comando das três Forças Armadas recebeu bem a informação de que o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) pretende nomear o ex-presidente do Tribunal de Contas da União (TCU) José Múcio Monteiro para o Ministério da Defesa. O anúncio deve ser feito até o início da semana que vem. Também foi elogiada a decisão do futuro chefe do Executivo, confirmada pelo Correio com fontes da equipe de transição, de adotar o critério de antiguidade para os postos de comandante do Exército, da Marinha e da Aeronáutica. A reação favorável da caserna aponta para a estabilidade na relação entre militares e o governo que assume em 1º de janeiro.
Comandantes do alto escalão militar ouvidos pela reportagem adjetivaram José Múcio como “sensato” e “muito bem relacionado”. Como a interlocução com as corporações fardadas é considerada por Lula a mais delicada no escopo da montagem do futuro ministério, por causa da ligação das Forças Armadas com o projeto de poder do presidente Jair Bolsonaro (PL), o futuro chefe do Executivo decidiu não constituir um grupo específico sobre a pasta da Defesa no governo de transição. Há duas semanas, o Correio revelou com exclusividade a dificuldade que Lula enfrentava para compor os grupos temáticos da Defesa e de Inteligência Estratégicas no gabinete provisório.
A ideia de não levar a questão para a transição ganhou força nesta semana, e a expectativa é de que os nomes do novo ministro da Defesa e dos comandantes das três Forças sejam anunciados no início da semana que vem, na primeira lista de escolhidos para compor a equipe ministerial.
“José Múcio Monteiro é um bom nome, não é aventureiro, tem um ótimo trânsito entre os militares e conhece bem as funções das Forças Armadas por causa do trabalho que desempenhou no TCU”, disse um militar de alta patente ouvido pelo Correio. Ele lembra que o ex-presidente da Corte de Contas analisou muitas das demandas de investimentos das corporações, viabilizando projetos estratégicos dos militares.
No governo de transição, a indicação de José Múcio é dada como “pule de 10”, um jargão do turfe para apontar o franco favorito nas bolsas de aposta. O deputado Wolney Queiroz, do PDT de Pernambuco, que integra o conselho político da transição, afirmou que “José Múcio é um nome de perfil conservador, mas que agrada o pessoal de esquerda, ele tem muito trânsito em todos os setores”.
Outra fonte declarou que é um nome forte, porém ressalvou o fato de o martelo ainda não ter sido batido: “Mas é a minha aposta”, cravou. Outros nomes que vinham sendo cotados, mas que perderam força na reta final, são os do ex-ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Nelson Jobim e o do senador Jaques Wagner, do PT da Bahia.
Drama familiar
Com relação aos novos comandantes das Forças, uma das fontes militares fez um comentário bem-humorado: “No Exército, o pessoal costuma dizer que, se há confusão, resolva sempre com o mais antigo”. Por isso, Lula decidiu manter o critério de antiguidade para os postos mais altos das três instituições. “É uma decisão sensata”, frisou.
Por esse critério, o presidente eleito deve optar pelos nomes do general Júlio Cesar Arruda para o comando do Exército; do almirante Renato Rodrigues Freire para a Marinha; e do tenente-brigadeiro Marcelo Kanitz Damasceno para a Força Aérea Brasileira (FAB).
O general Arruda é o chefe do Departamento de Engenharia e Construção do Exército, o almirante Freire chefia o Estado-Maior da Armada (Cema), e o brigadeiro Damasceno, o Estado-Maior da Aeronáutica.
A definição avançou após uma reunião de Lula com militares da sua confiança, entre eles, o general Enzo Peri, que foi comandante do Exército entre 2007 e 2015, e os brigadeiros Juniti Saito, que comandou a FAB também de 2007 a 2015, e Nivaldo Rossato, que o sucedeu.
Dos três possíveis futuros comandantes, um guarda uma relação de profundo respeito com o vice-presidente eleito Geraldo Alckmin. Em abril de 2015, quando ocupava o cargo de governador de São Paulo, o político do PSB perdeu o filho caçula, Thomaz Rodrigues Alckmin, de 31 anos, em um acidente de helicóptero na Grande São Paulo. O comandante do 4º Comar, na época, era o então major brigadeiro do ar Marcelo Kanitz Damasceno, que prestou todo o apoio ao gestor paulista na apuração das causas do acidente.
“Ele foi muito solidário com a família do governador Alckmin”, confidenciou ao Correio um colega de farda do atual chefe do Estado-Maior da Aeronáutica. “Damasceno é um excelente nome perante a tropa e tem perfil conciliador”, atestou o militar.