Quase três milhões de fluminenses estão passando fome. É como se metade da população da capital não tivesse o que comer.
Os dados constam de um suplemento do “2º Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil”, divulgado nesta quarta-feira (14) pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar (Penssan).
O documento diz que 3 em cada 10 famílias no país enfrentam algum nível de falta de alimentos e passam fome — ou 125 milhões de habitantes. Em junho, a Rede Penssan havia destacado que o número de brasileiros sem ter o que comer dobrou em 2 anos de pandemia.
A situação no Rio de Janeiro
Os pesquisadores foram de casa em casa, de novembro do ano passado a abril deste ano. Eles visitaram 12.745 domicílios em 577 cidades, em todos os estados do país e no Distrito Federal.
O estudo dividiu as famílias em quatro estágios:
- Segurança alimentar: o lar tem acesso regular e permanente a alimentos de qualidade, em quantidade suficiente, sem comprometer o acesso a outras necessidades essenciais;
- Insegurança alimentar leve: há preocupação ou incerteza em relação ao acesso aos alimentos no futuro e/ou qualidade inadequada de alimentos, resultante de estratégias que visam a não comprometer a quantidade de alimentos;
- Insegurança alimentar moderada: há redução quantitativa de alimentos e/ou ruptura nos padrões de alimentação resultante de falta de alimentos;
- Insegurança alimentar grave: há fome. A família não come por falta de dinheiro para comprar alimentos. Quem faz apenas uma refeição ao dia também entra nessa classificação.
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Veja os dados:
- Segurança alimentar: 42,8% dos lares do RJ, ou 7,5 milhões de fluminenses;
- Insegurança alimentar leve: 23,5% dos lares do RJ, ou 4 milhões de fluminenses;
- Insegurança alimentar moderada: 17,7% dos lares do RJ, ou 3 milhões de fluminenses;
- Insegurança alimentar grave: 15,9% dos lares do RJ, ou 2,7 milhões de fluminenses.
Esses 15,9% das famílias do RJ com fome superam a média nacional, de 15,5%. Alagoas é o estado em que os casos de insegurança alimentar grave são mais frequentes, atingindo 36,7% das famílias pesquisadas.
“Os resultados refletem as desigualdades regionais registradas no relatório do II VIGISAN, e evidenciam diferenças substanciais entre os estados de cada macrorregião do país”, aponta, em nota, o coordenador da Rede Penssan, Renato Maluf.
“Não são espaços homogêneos do ponto de vista das condições de vida. Há diferenças socioeconômicas nas regiões que pedem políticas públicas direcionadas para cada estado que as compõem”, completa.
A pesquisa indica que — em todos os estados — as famílias mais vulneráveis à insegurança alimentar grave e moderada são aquelas com renda inferior a meio salário mínimo, com pessoas estão desempregadas ou em condições de trabalho precárias, além de apresentarem baixa escolaridade. O alto endividamento também comprometeu a capacidade de acesso aos alimentos.